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Algumas citações de "Manhã Submersa" de Vergílio Ferreira

E porque este livro é bom demais, partilho algumas citações que gostei. Hei-de partilhar mais em breve.

"Perturbavam-me de prazer a trepidação da partida, o halo da novidade e sobretudo o apelo intrínseco e doce de todas as pequenas coisas que ficavam mais perto de mim, como o fato novo, estreado nesse dia, e o farnel da merenda para comer no comboio. Fechado nestas quimeras, eu calava-me também, como se com o silêncio me defendesse de tudo o que era ameaça à minha roda. Porque tudo para mim era estranho e ameaçador, desde a montanha imóvel na enorme manhã circular até ao espectro do Calhau e dos bois, tão insólitos na sua placidez inicial, como se viessem carregando o carro, submissamente, através de longos séculos..."

"À nossa volta crescia a ameaça insidiosa de um Outono pálido, profundamente cansado, cheio do aroma de todas as coisas mortas. Os castanheiros esguios, errantes pela colina, vagos, desencorajados, desfaziam-se lentamente das folhas amarelas, como quem desiste de tudo. No céu húmido e densamente azul, um sol taciturno aguardava, sem interesse, o fim do dia, como um velho inválido numa cadeira de braços, que já não tem projectos para amanhã. E para o fundo do vale, como para uma sepultura, descia uma neblina espessa, irremediável, que amortalhava para sempre a memória de tudo."

"Num instante de silêncio, levantou-se-me, na doçura do sol, o bater alegre do tanoeiro. E eu senti, como não sei explicar, que o tanoeiro, e o sol, e tudo o que era do mundo, tinham um vício secreto, uma sujidade intrínseca de pecado."

"Silêncio.
Um dia igual aos outros, arrastado e triste, como as tardes de um doente condenado. Justamente, para mim, era a hora do entardecer a mais lenta e solitária. A hora do entardecer - e essa outra hora nocturna, a do último estudo, já afogada de cansaço."

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