Comprar na Wook

WOOK - www.wook.pt

"Galveias" de José Luís Peixoto

Este foi o primeiro livro que li de José Luís Peixoto e não será o último certamente. Fiquei fascinada com a escrita do autor neste livro que, apesar de parecer demasiado simples à primeira vista, é elegante e descritiva q.b.


Esta história conta-nos a vida rural numa aldeia do Alto Alentejo, nos anos 80. O autor cresceu em Galveias e é inevitável pensarmos que este livro poderá ser, de certa forma, um pouco auto-biográfico.






O livro tem vários capítulos pequenos. No início, confesso, fiquei baralhada e pensei que eram pequenas histórias independentes, contos. Mas à medida que fui avançando percebi que as histórias se iam interligando, formando assim a essência do povo de Galveias. 


Começamos a história com uma Galveias tranquila que é incomodada pela "coisa sem nome" ou seja um meteorito que cai num terreno causando um estrondo enorme e deixando uma cratera e um cheiro nauseabundo a enxofre por toda a aldeia. Aos poucos andamos de rua em rua, de casa em casa, de pessoa em pessoa conhecendo as suas vidas carregadas de desgraças e infortúnios. Não é um livro feliz, mas é real. Até nas partes mais cómicas e alegres, senti o aperto da miséria e da dor que até nos cães, bastante presentes em todo o livro, se fazia sentir.



"Há muitas formas de estar morto. perder o cheiro, perder o nome, perder a própria vida, mesmo que ainda ocupando um corpo ou uma sombra. perder o cheiro, perder o nome, perder a própria vida, mesmo que ainda suportando o tempo e o peso do olhar."



Ao longo do livro temos sempre presente o cheiro a enxofre que fica nas árvores, na comida, na roupa e nas pessoas que se vão habituando. Fiquei a pensar se haveria algum significado, algum simbolismo neste meteorito e neste cheiro. Se havia não o decifrei... Será um castigo Divino pelos pecados dos Galveenses? Não sei...


Não nego que ler sobre esta aldeia, sobre esta ruralidade tão portuguesa me fez voltar à infância. Me fez lembrar os meus avós e todas as pessoas com quem convivi em criança, principalmente. Senti saudade e nostalgia, senti pena e mágoa. Cresci e vivi na aldeia até aos 25 anos (com uma pausa pelo meio de 3 anos para a faculdade) e reconheci tanta coisa. Dava por mim a parar a leitura para recordar alguém, ou algum momento.


Ler Galveias foi um regresso às minhas origens e penso que o será para muita gente também.


Com isto, claro que quero ler mais livros do autor! Evidente!


"Galveias" venceu, em 2019, o maior prémio de tradução no Japão, sendo o primeiro livro português a receber esta distinção. Foi também o primeiro livro de língua portuguesa a ser traduzido directamente para o idioma georgiano. 👏


"O futuro está cheio de momentos impossíveis à espera de acontecerem." 


José Luís Peixoto, Portugal (1974-)

Prémios:
  • Prémio José Saramago, 2001 (Nenhum Olhar)
  • Prémio Cálamo (Espanha), 2007 (Cemitério de Pianos)
  • Prémio de poesia Daniel Faria, 2008 (Gaveta de Papéis)
  • Prémio da Sociedade Portuguesa de Autores 2013 (A Criança em Ruínas)
  • Prémio Libro d' Europa (Itália), 2013 (Livro)
  • Oceanos - Prémio de Literatura em Língua Portuguesa (Brasil), 2016 (Galveias)
  • The Best Translation Award-Japan, 2019 (Galveias)

Data da primeira edição de Galveias: 2014

Para mais informações sobre o livro clicar aqui.


Boas leituras!

Até Breve
Ana C.

Comentários

Populares