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"Servidão Humana", de Somerset Maugham

Não sei exactamente porquê, mas este era um livro que me intimidava. Talvez por ser um clássico com 700 páginas... Não sei.


Aproveitei o tempo que tive em quarentena para me atirar a ele e percebi que não havia nada a temer. A escrita é simples e fluída e a história bastante interessante. O "bicho de sete cabeças" estava apenas na minha mente, como tantas vezes acontece, não é verdade?


Este livro é semi-autobiográfico, reflete muitos aspectos da vida do autor, uns mais subtis que outros.




"Servidão Humana" conta-nos a história de vida de Philip Carey, alter ego de Maugham, que fica órfão e vai morar com o tio, vigário de Blackstable.

Em rapaz é educado de forma rígida e o tio tenta formatá-lo a seguir as suas pegadas colocando-o num colégio interno. Claro que Philip não se dá bem. Além de ser extremamente tímido, tem um pé boto que o impede de brincar com os outros rapazes, que o gozam e humilham. A deficiência e falta de à vontade social levam-no a focar-se nos estudos, tornando-se bastante inteligente e ambicioso.

Convence o tio a deixá-lo ir para a Alemanha, onde passa um ano, e prova assim o primeiro gosto da liberdade. Aí, discute literatura e filosofia, e abre a mente para novas ideias e novos ideais. Posteriormente, vai para Paris estudar pintura, mas rapidamente percebe que continua sem se sentir completo nessa área.



"Sentia-se agradecido por não ter de acreditar em Deus, pois nesse caso a situação tornar-se-ia intolerável; uma pessoa só conseguia reconciliar-se com a existência por esta ser desprovida de significado"



Decide ser médico, como o seu pai era, e regressa a Londres com esse objectivo. E é aqui que se apaixona perdidamente por uma empregada de café, Mildred, que não tem qualidade alguma. Aliás, por diversas vezes, Philip tenta abandonar essa paixão rogando à razão e ao facto de Mildred ser uma mulher completamente desinteressante. Ela é, de facto, uma criatura desprezível. Sem sentimento algum por Philip, ou por quem quer que seja, que não ela própria, usa e abusa do seu coração. Então que paixão cega é esta que o leva praticamente à ruína? Que servidão é esta que o faz tão feliz? 

Este livro é muito mais do que a relação destas duas personagens. É a evolução física, emocional e mental de Philip. Ele toma decisões tão erradas que quase o destroem, e nem todas estão relacionadas com Mildred. Talvez ele seja demasiado imaturo ou orgulhoso para saber controlar firmemente a sua vida. Aos poucos e às custas de muito sofrimento vai-se tornando num homem apreciado e mais honrado.

Esta não é, de todo, uma história de amor. É sim, uma história de crescimento pessoal de um jovem adulto. No final ficamos com a sensação de que tudo aconteceu porque tinha de acontecer. Precisamos de sofrer um pouco para conseguir atingir um determinado nível de maturidade.



"A sua insignificância transformava-se em poder e sentia-se subitamente igual ao cruel destino que parecera persegui-lo; é que se a vida não tinha significado, o mundo via-se destituído da sua crueldade."



Observamos como espectadores incrédulos as várias voltas que a vida de Philip dá e devoramos o livro num ápice, nem nos apercebemos. Foi assim comigo. 

Aconselho muito esta leitura.


Existem adaptações cinematográficas (1934, 1946 e 1964), mas espero uma mais recente e mais fiel. 🙏


William Somerset Maugham, Reino Unido (1874-1965)
Título Original: "Of Human Bondage"
Data da primeira edição: 1915


Para mais informações sobre o livro, clicar aqui.


Boas leituras! 😉

Até Breve,
Ana C.

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