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"Os Intérpretes", de Wole Soyinka

Decidi ler pela primeira vez Wole Soyinka, para o meu desafio pessoal de ler os Nobel. Este autor foi o primeiro negro a vencer este prémio (em 1986) e, por isso, escolhi ler este livro em Fevereiro (Black History Month), mas acabei de o ler em Março 😅





Wole Soyinka é essencialmente um dramaturgo e um poeta, tendo escrito apenas dois romances, sendo Os Intérpretes um deles.



Resumidamente, este livro conta-nos as histórias de cinco amigos que se reencontram em Lagos, Nigéria, após alguns terem passado uns tempos fora: Sagoe; Bandele; Egbo; Kola e Sekoni. A par destes amigos, encontramos outras personagens tão ou mais carismáticas e interessantes. Acompanhamos as suas vidas atuais com memórias e descrições do passado, mas não de uma forma muito clara (pelo menos, para mim não o foi).

Existem vários acontecimentos estranhos neste livro, mortes inesperadas, religiões fanáticas, festas caricatas, etc. 


Mas afinal, porquê Os Interpretes? Quem são? 


Com uma forte presença artística, religiosa, politica e económica, creio que este grupo de amigos está constantemente a tentar interpretar tudo o que se passa ao seu redor e até a si próprios. Uma rápida pesquisa fez-me entender que este livro foi escrito na altura pós-independência e talvez estas personagens estejam a tentar interpretar as suas novas vidas num novo país.


Devo admitir que não simpatizei muito com nenhum deles, pareceram-me (no geral) demasiado stressados, ofendidos com tudo e todos, preconceituosos, machistas, etc. O tipo de pessoas que me dá ansiedade só de presenciar um momento ou outro. Claro que são todos diferentes. Mas parecem todos roçar a loucura. Não sei se o comportamento deles era causado por traumas, stress ou mau feitio.


As personagens que mais gostei foram as femininas. Gostei muito de Monica, casada com Ayo Faseyi (acho que esta personagem foi a que menos gostei), que não segue a regras sociais impostas pela classe alta, que o marido tenta a todo custo penetrar. De início parece um pouco submissa, mas acaba por se afirmar. Gostei muito da sua sogra, a Sra. Faseyi, que adora a nora e a apoia e incentiva a procurar a felicidade longe do filho, pois bem vê a incompatibilidade entre ambos. Também gostei de Dehinwa, amiga dos cinco protagonistas, por se afirmar enquanto mulher forte e independente num mundo machista e cheio de estereótipos (inclusivamente muitos bem presentes na personalidade da própria mãe).

Houve outra personagem que quero também referir, por a ter considerado bastante interessante. Joe Golder, um professor alemão com nacionalidade Americana, que vive na Nigéria. É homossexual e por isso mesmo causa muita repulsa a Egbo. Joe gosta de cantar, gosta de livros e de estar sozinho. Também ele tem um humor instável, apesar desta característica aparecer menos nele do que nos outros.


Sendo bastante sincera, ainda não sei muito bem o que pensar deste livro, nem sei se algum dia irei percebe-lo totalmente. Confesso que não foi uma leitura fácil, especialmente nos primeiros capítulos e por vezes senti-me perdida em relação às personagens e ao tempo da ação.


A escrita e Soyinka é, de facto, confusa. Não considero que tenha muitas descrições, mas este voltar repentino ao passado ou a outra personagem, deixou-me desnorteada inúmeras vezes. Estive quase para desistir desta leitura, mas o desejo de ler um dos melhores clássicos africanos foi mais forte e insisti. Porém, não sinto que esta leitura me tenha acrescentado algo (não que tenha de ser esse o objetivo dos livros). Não foi uma leitura prazerosa, principalmente durante a primeira parte (cerca e 200 páginas).


Não é um livro fácil e sinto que necessitaria de um intérprete para me ajudar a entender algumas partes desta história.


Dito isto, não posso dizer se recomendo ou não a sua leitura. Claro, que me apetece afirmar que sim, recomendo, mas não a todos. Aconselho a fazerem uma breve pesquisa antes de o lerem, para perceberem se é uma leitura para vocês ou não. E vão com tempo e foco.



Espero não ter causado má impressão. Tentei ser sincera sem dar spoilers e se o lerem gostaria de saber a vossa opinião.



Autor: Wole Soyinka , Nigéria (1934-)

Título Original: "The Interpreters"

Data da primeira edição: 1965


Para mais informações sobre o livro, clicar aqui.




Boas leituras! 😉


Até Breve,
Ana C

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