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"2666", de Roberto Bolaño


Vou confessar-vos uma coisa. Há anos que tinha este livro na estante. As mais de 1000 páginas intimidavam-me e acabava sempre por adiar a sua leitura. Fiz uma primeira tentativa em 2019, mas desisti nem passadas 200 páginas. Apesar disso, continuei com a vontade de voltar a ele e aproveitei o confinamento deste ano para o fazer.


Penso que desta vez fará sentido explicar-vos um pouco o livro antes de vos dar a minha opinião, mas poderá ter spoilers.


“2666” está dividido em 5 partes e inicialmente o autor pretendia publicar em 5 livros separados. Acabando por falecer antes da sua publicação, os herdeiros e editores acharam por bem não cumprir a vontade do autor e publicar num único livro. Pessoalmente acho que foi a decisão certa e já vos explico o porquê.


Resumidamente as 5 partes são:


A Parte dos Críticos, que apresenta um pequeno grupo de críticos literários europeus especializados e obcecados por um escritor misterioso alemão, Benno von Archimboldi. Este escritor não é visto há décadas e a sua vida é um mistério. Apesar deste secretismo, é uma figura prestigiada nas letras, sendo até referido para uma possível nomeação ao Prémio Nobel da Literatura. Estes críticos, que se tornam amigos, seguem algumas pistas para conseguir encontrar o seu ídolo, acabando no México, onde conhecem a personagem principal da próxima parte.

Achei esta parte demasiado descritiva e até certo ponto repetitiva, e entendo o porquê de tantas desistências aqui. São quase 200 com pouco “sumo”, na minha opinião. Se tivesse sido publicado em separado, faria pouco sentido e acho que poucas pessoas se teriam aventurado a continuar os restantes livros.


A Parte do Amalfitano, que conta a história de um professor de filosofia na cidade (fictícia) de Santa Teresa, no México. Esta cidade é palco de crimes violentos contra mulheres e Amalfitano, que mora sozinho com a filha, teme pela segurança desta. Gostei bastante mais desta parte. A escrita fluída do autor, e a história interessante destas personagens fazem-nos passar as páginas com rapidez.


A Parte de Fate, apresenta-nos uma nova personagem, Óscar Fate, jornalista americano que se encontra em Santa Teresa para registar um combate de boxe e acaba por ter conhecimento dos crimes, mostrando-se cada vez mais interessado nesta questão. Também gostei desta parte. Da mesma forma que a anterior, achei interessante a história das personagens que aqui nos são apresentadas.


A Parte dos Crimes, onde nos são relatadas pormenorizadamente as dezenas e dezenas de crimes hediondos cometidos contra as mulheres de Santa Teresa (Aqui é importante referir que estes crimes foram reais e o autor quis desta forma dar a conhecer ao mundo a brutalidade que aconteceu na altura). A par com as descrições dos crimes, é-nos mostrado o contexto social e pessoal de algumas destas mulheres e a vida difícil nesta cidade pobre e corrupta. E esta foi sem dúvida a parte que menos gostei. São páginas e páginas de histórias de mulheres e da forma como foram atacadas e assassinadas. Chega a um ponto que estamos exaustos de ler tantas histórias idênticas, e perdemo-nos no emaranhado de personagens sem fim. Bolaño cria tantas histórias paralelas idênticas que, se não desistimos do livro na primeira parte, é aqui que está o verdadeiro desafio em continuar a ler.


A Parte de Archimboldi, onde finalmente nos é dado a conhecer toda a vida deste escritor misterioso e a sua ligação aos acontecimentos de Santa Teresa. E nesta última parte, entramos cansados da anterior. Felizmente, o tipo de narrativa muda completamente e conseguimos acordar para ler a história final, a que tanto esperamos conhecer.


É um livro interessante, apesar das descrições e repetições nalgumas partes. Não é um livro que consiga recomendar a qualquer leitor. Por vezes sentia-me tão aborrecida que só o queria abandonar e acho que só o terminei porque estava a organizar uma leitura conjunta e sentia-me na “obrigação” de o ler até ao fim. E ainda bem que o fiz.


A escrita do autor é muito boa, bastante fluída e muito crua. Ele chama as coisas pelo nome, por assim dizer, sem medo nem pudor, e isso foi uma das poucas coisas boas a que me agarrei para o terminar.


Mas no geral, foi uma desilusão total para mim e, atrevo-me a dizer, para os restantes leitores do grupo. 


Apesar de ser considerado o seu MAGNUM OPUS, foi uma experiência de leitura estranha e pouco agradável para mim e dificilmente o conseguirei recomendar a alguém.


No entanto, permaneço com o desejo de ler mais alguma obra do autor, como “Os Detectives Selvagens”, por exemplo.




Data da primeira edição: 2014


Para mais informações sobre o livro, clicar aqui.



Boas leituras! 😉


Até Breve,
Ana C

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